WHAT IF 

                                                                                                CONVEX

                                                                                                TIME

                                                                                                ENTANGLE THE TEXTURE

                                                                                                UNDO

                                                                                                INDEED 

                                                                                                WHAT IF 

                                                                                                IMMENSE ROOMS

                                                                                                EMPTY

                                                                                                LOADED











VANISHING é um encontro, uma peça em dois momentos, com dois intérpretes, dois discursos, onde cada uma de nós compõe uma partitura coreográfica para a outra, repetindo padrões, recorrências, organismos. A partir de reflexões sobre a efemeridade da dança e do ato performativo - “dance always vanishes in front of our eyes in order to create a new past” (André Lepecki) - pesquisamos sobre o gesto, presença vs ausência, aparecimento vs desaparecimento, contemplando as várias perda do que foi/já não é. Mergulhamos no quotidiano do corpo e da sua gestualidade particular, na observação contaminante do outro, nos espaços negativos em prosa, confundindo sujeito e objeto, mesclando ação e reação. Utilizamos o “olhar” enquanto iconografia de observação, pesquisa, procura, num diálogo ambivalente de conexão, domínio, rejeição.  Ciclos do tempo - dia metamorfoseando-se na noite – como referência para representação/fracasso, captação da forma, impossibilidade da mesma, repetição, transformação, superabundância de movimento. Coreografar o invisível, destruir os ciclos: agora vês-me, agora não, desapareces para dentro de mim, desapareço para dentro de ti - tu que me estás a ver. Encontramos espaços intermédios: des-olhar, des-formatar, projetar desejos, pesadelos, pó. Presença em trânsito, em transição, numa constante demanda por lugares de pertença e memória. 


VANISHING is an encounter, a play in two moments, with two performers, two speeches, where each of us composes a choreographic score for the other, repeating patterns, recurrences, organisms. Based on reflections on the ephemerality of dance and the performative act - “dance always vanishes in front of our eyes in order to create a new past” (André Lepecki) - we researched the gesture, presence vs absence, appearance vs disappearance, contemplating the various losses of what was/is no longer. We dive into the daily life of the body and its particular gestures, in the contaminating observation of others, in the negative spaces in prose, confusing subject and object, mixing action and reaction. We use “looking” as an iconography of observation, research, search, in an ambivalent dialogue of connection, dominance, rejection. Cycles of time - day metamorphosing into night - as a reference for representation/failure, capture of form, impossibility of it, repetition, transformation, overabundance of movement. Choreographing the invisible, destroying the cycles: now you see me, now you don't, you disappear inside me, I disappear inside you - you who are seeing me. We find in-between spaces: un-looking, un-formatting, projecting desires, nightmares, dust. Presence in transit, in transition, in a constant demand for places of belonging and memory.


It must be nice to disappear, To have a vanishing act, To always be looking forward, And never looking back. Lou Reed

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Choreography and Performance 
Beatriz Valentim & Bruno Senune
Musical Composition and Live Performance Pedro Souza
Texts and Documentation Telma João Santos
Costumes Ana Isabel Castro
Props and Scenic Space Beatriz Valentim & Bruno Senune
Light Design Mariana Figueroa 
Audiovisual Recording Daniel Pinheiro
Residences Instável Centro Coreográfico, A Gráfica – Centro de Criação Artística de Setúbal
Rehearsal space CAMPUS, Companhia Olga Roriz
Co-production Instável Centro Coreográfico, A Gráfica – Centro de Criação Artística de Setúbal
Support to Creation Fundação GDA





© João Peixoto | TMP


VANISHING

escrito por Telma João Santos


A natureza efémera, e transitória, da dança é uma das características mais comummente aceites, mas também interessantes e complexas, desta arte performativa: por mais que um espetáculo seja completamente definido à partida, esteja minuciosamente preparado, cada vez que ele é apresentado publicamente, ele é diferente – de facto, ele nunca será o mesmo - não só pela impossibilidade da repetição exata do mesmo evento, mas também pela impossibilidade em garantir a mesma relação com o público e/ou o lugar, impossibilitando-nos assim também de a fixar. Podem-se encontrar formas de transformar em memória um espetáculo filmando-o, escrevendo sobre ele, pintando-o, fotografando-o, mas estaremos a produzir outros objetos artísticos a partir do objeto primeiro – o espetáculo de dança – que é irrepetível. Tal como o dia e a noite acontecem diariamente, mas não se repetem exatamente da mesma forma, a dança percorre este lugar transitório dentro de formatos de repetição que nos permitem reconhecê-la enquanto padrão, mas nunca encontrar a sua forma definitiva e repetível. Existe numa peça de dança o fator primordial de poder ser olhada como um conjunto de aparecimentos e desaparecimentos constantes que desafiam coreógrafos e bailarinos a tentar “agarrar” ou “fixar” todos esses aparecimentos e desaparecimentos, transformando-os em memória o mais próxima possível de um lugar fixo através da repetição exaustiva. É este o desafio que se tornou mote e conceito para VANISHING.


Em VANISHING, Beatriz Valentim e Bruno Senune propõem-se transformar a efemeridade e o estado transitório da dança em material conceptual e coreográfico, procurando estados de perceção e propostas de movimento em torno do que pode significar “aparecer” e “desaparecer” através da literalidade destes sentidos, fazendo o corpo estar mais ou menos presente em palco, desviando-se da centralidade do mesmo e/ou voltando a ela, ou usando o olhar como uma ferramenta essencial que permite criar uma relação de proximidade ou afastamento em relação a uma ideia de presença estabelecida com o público. Desviar o olhar, esconder-se, aproximar-se, afastar-se, equilibrar-se, encolher-se, fixar pequenas partituras coreográficas através da repetição clara e muito explícita, desenvolver uma dramaturgia para o corpo, são outros elementos participantes nesta peça. 


“Dance always vanishes in front of our eyes in order to 

create a new past. The dance exists ultimately as a 

mnemonic imprint of what has just lived there” 

(André Lepecki) 


A transitoriedade conceptual e os espaços intermédios encontrados a partir do que está fixado como normativo ou hegemónico em torno das conceções sobre o que é a dança e quais são os movimentos que lhe pertencem são também parte do que motiva a construção desta peça, desde a procura de movimentos que estão nos interstícios do que é o movimento considerado “virtuoso”, bem como a procura de momentos que caracterizam não só o dia e a noite, mas que delineiem uma paisagem para os estados transitórios: o amanhecer e o anoitecer. Beatriz Valentim e Bruno Senune transformam assim o palco numa paisagem exploratória onde são arqueólogos das ancestralidades do que configura a efemeridade, a transitoriedade, os espaços intermédios, e as fronteiras da contiguidade dos conceitos e também dos movimentos concretos. Destroem binários sobre onde está a dança, o seu virtuosismo – no extremo ou nos interstícios? - ou o colapso do entendimento binário na relação com a exploração do lugar.


Esta é uma peça com dois coreógrafos e dois intérpretes; não no sentido clássico de um dueto criado por dois artistas, mas sim um solo contínuo com um primeiro momento dançado por Beatriz Valentim e coreografado por Bruno Senune e um segundo momento dançado por Bruno Senune e coreografado por Beatriz Valentim. O olhar dá o mote para o início, onde a relação com o público se estabelece como essencial para a exploração arqueológica e antropológica de uma paisagem que navega entre lugares ficcionais e a realidade dos corpos em presença e em relação com o público, desafiando também algumas noções: enfrentar o “em frente” com a potência de o dominar, enquanto esse “em frente” se vai infiltrando e tornando totalizador numa disputa poética entre o “observador” e o “observado”, confundindo-se sujeito e objeto. Anoitece por entre pequenas partituras coreográficas que na repetição e no afastamento, se vão desvanecendo e tornando noite, esse ciclo diário que fascina pela possibilidade da extravagância, da boémia, da quase-loucura, da ausência de luz que permite uma invisibilidade por vezes necessária ao enfrentamento dos dias e da vida. Beatriz começa por de-ver o mundo, acompanhar o anoitecer, os ciclos, permitindo-se sensações e reações incomuns. Bruno traz consigo o dia, a possibilidade de transições rápidas, de reações diversas, divertidas, amedrontadas, mas sem medo, carregadas de vitalidade, energia e sedução, permitindo-se também, ao finalizar o dia, desvendar pequenas partituras coreográficas que, na repetição, se transformam numa paisagem completa.


VANISHING é centrada numa estrutura coreográfica de espaços de transição não definidos e não classificados, desde os ciclos diários como anoitecer e amanhecer, aos espaços de transição entre estados de perceção e relação com o que é visto e quem vê, permeando os intermédios entre contextos aparentemente binários. Entre a visibilidade e a invisibilidade, entre o dia e a noite, entre o movimento virtuoso e o insignificante, entre a presença e a ausência, entre o ver e o des-ver, constroem-se um conjunto de “vanishing acts” como propriedades da efemeridade dos corpos da dança.

Aparecimento e desaparecimento da forma 

Corpo em constante metamorfose
Aparecimento e desaparecimento dos ‘eus’ 

Perder-me em mim 

Esqueci-me em ti 

Abraçar essas noções 

Não sei. Alguma vez soube? 

(Bruno Senune, com releitura de Telma João Santos)



VANISHING

written by Telma João Santos


The transient and ephemerous nature of dance is one of its most commonly accepted features, but also one of the most interesting and complex ones of this performative art: even though a dance piece is defined in the first place, even if it is thoroughly prepared, it is different in each public presentation – in fact, it will never be the same – not only due to the impossibility of the exact repetition of the same event, but also due to the impossibility in guaranteeing the same connection with the audience and/or the place, making it also impossible for us to fix it. 


We can find ways of transforming a dance piece into a memory by filming it, writing about it, painting it, photographing it, but we will be mainly producing other artistic objects from that first one – the dance piece – which is unrepeatable. Like day and night repeat themselves daily, but not in the exact same way, dance traverses this transient place inside templates of repetition that allow us to recognize it as standard, but we never find its definite and repeatable final form. There exists in a dance piece the primordial possibility of being viewed as a set of appearances and vanishings, transforming them into memory as close as possible of a fixed spot through exhaustive repetition. This is the challenge that became the concept and motto for VANISHING.


In VANISHING, Beatriz Valentim and Bruno Senune propose themselves to transform the ephemerality and the transient state of dance into conceptual and choreographic material, searching for perception states and movement proposals around what can signify “appearing” and “vanishing” through the literality of these meanings, transforming the presence level of the body on stage, deviating from the its centrality and/or going back to it, or even using the eye as an essential tool that allow them to create a proximal or distant connection in relation with a preconceived idea of presence. To avert the gaze, to hide, to approach, to stray, to balance, to shrink, to fix small choreographic scores through clear and explicit repetition, to develop a dramaturgy for the body, are also elements that participate in this dance piece.


“Dance always vanishes in front of our eyes in order to 

create a new past. The dance exists ultimately as a 

mnemonic imprint of what has just lived there” 

(André Lepecki) 


The conceptual transience and the intermediate spaces found from what is originally fixed as normative or hegemonic around conceptions on what is dance and what are its validated movements are also part of what motivates the construction of this piece, from the search for movements that are in between of what are the virtuous movements belonging to dance, as well as the search for movements that characterize concepts of day and night, delineating also a landscape of their transitional states: dawn and nightfall. Beatriz Valentim and Bruno Senune transform the stage into an exploratory landscape where they are archeologists of the ancestries that configurate ephemerality, transience, intermediate spaces, and boundaries of contiguity of concepts and also concrete movements. They destroy binaries on concepts of the origins and the place of dance, its virtuosity – in the frontiers or in between spaces? – or the collapse of the binary agreement on the connection with the exploration of the scenic space. 


This is a dance piece that has two choreographers and two performers; not in the classical sense of a duet created and performed by two artists, but as a continuous solo piece with a first moment danced by Beatriz Valentim and choreographed by Bruno Senune and a second moment danced by Bruno Senune and choreographed by Beatriz Valentim. The gaze gives the motto for the start of the piece, where the connection with the audience is established as essential and central for a kind of archeological and anthropological exploration of a landscape that navigates in between fictional spots and the reality of the present bodies, defying some notions: to confront the “in front” with the power of domination, while that “in front” infiltrates itself and becomes totalizer in a poetic dispute between “observer” and “observed”, confounding subject and object. The night falls in between small choreographic scores that, in repetition and distance, vanish and become night, the daily cycle that fascinates through the possibility of extravagance, bohemian, almost craziness, absence of light that allows a sometimes-necessary invisibility to confront life. Beatriz starts by un-seeing the world, following the nightfall, the cycles, allowing herself uncommon reactions and sensations. Bruno brings with him the day, the possibility of quick, diverse and funny transitions, but also frightened and without fear reactions, packed with vitality, energy and seduction, also allowing himself to unwrap, at the end of the day, small choreographic scores that, in repetition, transform themselves into a complete landscape.


VANISHING is centered on a choreographic structure of non-defined and non-classified transition spaces, from the daily cycles as dawn and nightfall, to the transient spaces in between perception states of what is seen and who sees it, permeating the apparently binary intermediate states. In between visibility and invisibility, in between day and night, in between virtuous and insignificant movement, in between presence and absence, in between seeing and un-seeing, there is the development of a set of “vanishing acts” as features of the ephemerality of dancing bodies.

Appearance and vanishing of the form

Body in a constant metamorphosis

Appearance and vanishing of the “selves”

Get lost in myself

I forgot myself in you

To embrace these notions

I don’t know. Did I ever know?

(Bruno Senune, with a re-reading by Telma João Santos)




 
                             .              © Daniel Pinheiro