LA SOIF é um projeto onde me reencontro comigo próprio, onde as várias peças que fui desenvolvendo, por entre muitas outras como intérprete, respiram, aceitam o encontro e se transformam, através de vários mecanismos de criação e desafios autopropostos, numa nova viagem, a viagem da viagem, uma viagem por entre a destruição, re-construção, lamento, deriva, delineando paisagens por entre o sufoco e a respiração. Em particular, em LA SOIF volto a olhar para quatro peças que desenvolvi: (Rei Criança 2016), (A Deriva dos Olhos 2017), (Melancolia 2019) e (Nácar 2023), procurando agora uma partitura coreográfica que aglomere de uma forma nova e contínua estes quatro momentos, construídos separadamente, e no seu tempo específico, criando assim um novo solo, fruto da revisitação. A partir dos conceitos de viagem e memória, estabeleço novos entremeios que destroem binários, que se reformulam por entre possibilidades fixas. O “trash”, o queer, a paisagem inominável, o etéreo, o efémero, mas sempre o corpo, presente até nas maiores ausências, a elaborar o passo, o compasso, o movimento, o suor, o erótico, o “estou aqui”. Assumo nesta peça o meu nomadismo, concreto e ficcional, aceito que a viagem me caracteriza como pessoa, como artista, construindo imaginários assentes na autobiografia, mas também eles reformulados e reconstruídos por entre universos ficcionais. Desenvolvo-me como mito, deambulo por entre lamentos, desolações e desconsolos. O que é o real senão uma construção, um olhar, particulares? Sou, tal como uma das possibilidades de ser Helena, filha do Oceano e de Afrodite, entre o infinito do mar e o erotismo, viajando por entre marés e possibilidades de encontro, acreditando em imaginários ondulantes, efémeros, transitórios e ritualizados, que se repetem, e voltam e revoltam. Stig Dagerman diz em a nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer “tudo em mim é um duelo, uma luta travada a cada minuto da vida entre falsas e verdadeiras formas de consolo. Umas não fazem senão aumentar a impotência e tornar-me mais fundo o desespero, outras são fonte de temporária libertação”. Em La Soif continuo à procura de um rumo, de uma identidade do agora, do amanhã, (des)construindo e vivendo através de uma ideia de amor também ela do agora e do amanhã, numa constante tentativa de consolo.
LA SOIF is a project where I reconnect with myself, where the various pieces I've developed, among many others as a performer, breathe, embrace the encounter, and transform themselves, through various creative mechanisms and self-proposed challenges, into a new journey, the journey of the journey, a journey through destruction, reconstruction, lament, and drift, outlining landscapes between suffocation and respiration. In particular, in LA SOIF, I revisit four pieces I developed: (King Child 2016), (Drifting Eyes 2017), (Melancholia 2019), and (Nácar 2023), now seeking a choreographic score that brings together in a new and continuous way these four moments, constructed separately and in their specific time, thus creating a new solo by revisitation. Drawing on the concepts of journey and memory, I establish new in-betweens that destroy binaries, reformulating themselves within fixed possibilities. The "trash," the queer, the unnameable landscape, the ethereal, the ephemeral, but always the body, present even in the greatest absences, crafting the pace, the rhythm, the movement, the sweat, the erotic, the "I am here." In this piece, I embrace my nomadism, both concrete and fictional, accepting that travel characterizes me as a person, as an artist, constructing imaginaries grounded in autobiography, but also reformulated and reconstructed within fictional universes. I develop myself as a myth, wandering through laments, desolations, and despair. What is reality if not a particular construction, a particular gaze? I am, like one of the possibilities of being Helen, daughter of the Ocean and Aphrodite, between the infinity of the sea and eroticism, traveling between tides and possibilities of encounter, believing in undulating, ephemeral, transitory, and ritualized imaginaries that repeat themselves, return, and revolt. Stig Dagerman says in Our Need for Consolation Is Impossible to Satisfy "Everything in me is a duel, a struggle waged every minute of life between false and true forms of consolation. Some only increase my impotence and deepen my despair, others are a source of temporary liberation." In La Soif, I continue searching for a direction, an identity for now, for tomorrow, (de)constructing and living through an idea of love that is also of now and tomorrow, in a constant attempt at consolation.
↓
direction, stage space, and performance Bruno Senune
texts, documentation and research Telma João Santos
choreographic advice Régis Badel
costume design Uri from an idea by Ana Isabel Castro
sound Bruno Senune technical support Lise Meron
graphic design Kmiye Melle Pin
residencies A Piscina, Companhia Olga Roriz, STUDIO BUSSIEX
co-production Festival Interferências, CDCE - FIDANC
administrative management Réptil Artes Performativas
2025
PREMIERE - Festival Internacional de Dança Contemporânea de Évora (Évora, Portugal) - 27 de Setembro
Festival Interferências (Lisboa, Portugal) - 3,4 e 5 de Outubro