Depois do êxtase, o aborrecimento, a deriva, a repetição, a cegueira, a lentidão. A Deriva dos Olhos é um ritual onde a circularidade e a relação entre movimento, percepção e música se estabelecem depois do fim. A memória, o cansaço e a exploração de trânsitos e espaços intermédios intersubjetivos como narrativa. O discurso após o discurso, o corpo após o corpo, a música após a música. A redenção, a purificação de uma culpa provável, de uma existência-limite. O olhar enquanto representação imaterial de si, um espaço de deriva de navegação, gerador de sentido. A poética da repetição de ações que, no limite, se aproximam de uma poética do atual. O cansaço do excesso de imagens como narrativa para depois do agora. O desfoque de uma imagem através da sua repetição, A Deriva dos Olhos que gera novos olhares.
Uma enciclopédia de movimento ritualizado e recontextualizado é elaborada, na busca de uma matriz identitária atual, onde a busca de estados-limite em torno de uma nova imagética do corpo como gerador de sentido, é central. A recriação do cansaço a partir da repetição de movimentos-ações em torno de uma relação circular e ritualística de aborrecimento, uma marioneta de si que se metamorfoseia em torno da relação com a música.
Este projeto pode ser olhado como um exercício co-narrativo e onde a repetição e o ritual perspectivam uma quase-liquidez de sentido. Um estado quase-amorfo que se transforma numa nova narrativa que mapeia um lugar possível. A Deriva dos Olhos é ainda, na sua deriva, uma dança em choro, um lamento contínuo, como lugar de libertação, de purificação de si. Uma tentativa de regresso a uma não-dor da vida, sendo esta possibilidade a única forma de sobrevivência. Um lamento para viver.
After the ecstasy, the boredom, the drift, the repetition, the blindness, the slowness. The Drift of the Eyes is a ritual where circularity and the relationship between movement, perception and music are established after the end. Memory, fatigue and the exploration of transits and intersubjective intermediate spaces as narrative. Speech after speech, body after body, music after music. Redemption, the purification of a probable guilt, of a limit existence. The gaze as an immaterial representation of oneself, a space of navigation drift, generator of meaning. The poetics of repetition of actions that, ultimately, come close to a poetics of the nowadays. The tiredness of the excess of images as a narrative for the after now. The blurring of an image through its repetition, The Drift of the Eyes that generates new perspectives.
An encyclopedia of ritualized and recontextualized movement is created, in search of a current identity matrix, where the search for limit states around a new imagery of the body as a generator of meaning is central. The recreation of tiredness through the repetition of movements-actions around a circular and ritualistic relationship of boredom, a puppet of the self that metamorphoses around the relationship with music.
This project can be seen as a co-narrative exercise where repetition and ritual create a near-liquidity of meaning. An almost amorphous state that transforms into a new narrative that maps a possible place. The Drift of the Eyes is still, in its drift, a crying dance, a continuous lament, as a place of liberation, of self-purification. An attempt to return to a non-painful life, this possibility being the only way of survival. A regret to live.
© PEDRO SARDINHA // ANIVERSÁRIO RIVOLI |